| 14/06/2008 23h10min
Um chamado urgente na noite de quarta-feira obrigou Fernando Carvalho a mudar sua rotina. A crise que estremecia os gabinetes do Beira-Rio o forçou a abrir espaço para o Inter na agenda. Desde que deixou a presidência, em dezembro de 2006, Carvalho tratou de cuidar dos assuntos ligados ao seu escritório de advocacia.
Também começou a dar palestras sobre gestão esportiva pelo Brasil e assumiu a vice-presidência do Clube dos 13.O clube do coração estava restrito aos jogos e às eventuais consultas do vice de futebol, Giovanni Luigi. O que era esporádico virou oficial. Agora, estará no vestiário.
No início da tarde de sexta-feira, Carvalho recebeu ZH em seu escritório, na Cidade Baixa. Por uma hora falou sobre o novo Inter que ajudará Luigi e o presidente Vitorio Piffero a remontar. Confira trechos da conversa.
Zero Hora - Como fica a sua rotina com o retorno ao Inter?
Fernando
Carvalho - Passarei a comparecer ao Beira-Rio nas horas que seriam do
meu lazer. Tenho compromissos assumidos, como palestras e cursos, e precisarei remarcar alguns. Pretendo viajar com o clube e ficar em contato permanente com o técnico e a direção nestas primeiras semanas. Faço isso em nome da amizade com Vitorio Piffero e com Giovanni Luigi e por amor ao clube.
ZH - Por que voltar depois de ganhar a Libertadores e Mundial?
Carvalho - Não posso deixar meus amigos (Luigi e Piffero) neste momento de dificuldade. Meu filhos gostaram, mas a minha mãe (Dona Lia, de 75 anos) disse que não sabia se deveria me parabenizar.
ZH - Como foi essa volta ao departamento de futebol, após cinco anos na presidência?
Carvalho - O ambiente do qual mais gosto é o do vestiário. Estou me sentindo à vontade.
ZH - O que levou o clube à contratação do Tite?
Carvalho - Havia conversado com ele em 2000, quando estava no Caxias. Havia possibilidade de
concorrer à presidência e nos reunimos. O Luigi e o Piffero gostam da maneira de treinar do Tite. Existiu pequena discussão em torno de outros nomes, mas houve consenso na escolha. A influência que tive foi de prestar informações sobre conversas de 2000. Mas a decisão foi de Luigi e Piffero.
ZH - O que esperar de Tite?
Carvalho - Que implante no time o seu estilo gaúcho, com muita marcação, controle de bola, triangulações. É um técnico moderno, que adapta os jogadores ao sistema que impõe.
ZH - Como será o Inter dele?
Carvalho - O Tite é quem determinará o esquema. Sempre definiu de acordo com a qualidade dos jogadores. Precisará de seis a sete jogos para desenhar o time ideal.
ZH - A antiga vinculação do Tite com o Grêmio pode prejudicar?
Carvalho - Não vi ranço algum até agora. Isso não afetou em nada. Internamente, todos estão satisfeitos. Ele tem apoio irrestrito da
direção.
ZH - O problema do Inter é técnico ou emocional?
Carvalho - O Abel Braga é excepcional técnico, mas, quando anunciou internamente a saída, pouco antes do jogo com o Sport (pelo Brasileirão), não estava mais com a cabeça aqui, perdeu o foco. Isso afetou o vestiário e o rendimento do time caiu demais. Essa transição toda foi muito ruim para nós.
ZH - Ainda há resquícios do time campeão mundial?
Carvalho - É uma fase de transição. O Inter acrescentou jogadores, não temos mais um time campeão mundial, mas alguns jogadores campeões mundiais. Hoje, temos um time que ainda precisa provar.
ZH - A recuperação passa pela reformulação do grupo?
Carvalho - A reformulação pode ocorrer, mas não é adequada no momento. Ao natural, eventuais mudanças
acontecerão. Até porque há um novo comando no vestiário.
ZH - Isso significa contratações e dispensas?
Carvalho - É cedo para falar disso. Podemos buscar jogadores no Brasil e no Exterior. Não posso falar em dispensas. O técnico precisa analisar o grupo.
ZH - Qual Inter é melhor: o de 2006 ou o atual?
Carvalho - É preciso pensar em tudo: foco, mobilização e objetivo. Como esse grupo está em crescimento, não dá para comparar.
ZH - Há harmonia entre os campeões mundiais e os jogadores que chegaram depois?
Carvalho - Isso nunca foi problema. A grande desestruturação veio com a saída do Abel. Houve um hiato até a contratação do Tite, e as coisas se complicaram. Ele saiu no meio de um trabalho vencedor e isso afetou o ambiente.
ZH - O que há com Nilmar?
Carvalho - O Luigi pretende dar tratamento
especial a ele, especialmente na questão física. Isso será definido pelo departamento médico em conjunto com a preparação física.
ZH
- O que é possível projetar para o Inter no Brasileirão?
Carvalho - Não serei fanfarrão de prometer o título agora. Primeiro, precisamos sair dessa situação ruim. Depois, veremos aonde vamos chegar.
ZH - Com o seu retorno ao futebol, o que muda na situação eleitoral para o fim do ano?
Carvalho - Vou adotar o candidato que o Piffero indicar. Meu candidato é o Piffero. Ele tem direito à reeleição. Sempre estive ao lado dele e do Luigi.
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